8.12.04

demão (herberto helder)

Retorna à escuridão
o rosto: entre centelhas, ficasse tão maduro quando de te tragar estremecesses, que o animassem os elementos: um interior: um limite do mundo, e se afinasse como um galho de marfim cheio de lume, que fosse um instrumento de crescer na terra: um golpe nela, abraço com a mão coroada, até á bolsa com alua dentro, no ovo está o astro, se pelos dedos nesse rosto te plantasses todo na riqueza do sono, soldado a nervos: osso, feixe de fibras tímpanos, e as faíscas saltando pelas unhas as deixassem ígneas, e a veia arpoasse igneamente a massa muscular, ou a aorta sorvesse a matéria tremenda ao seu abismo, e te encharcasse até ás pálpebras essa púrpura por válvulas contra os dentes. nos fundamentos há vezes em que és ligeiro ao movimento da água, ou nas paredes onde os canos se cruzam como um corpo onde se cruzam órgãos tubos, um alento das coisas: dos tecidos do mundo, e por exemplo se a louça e o inox brilhados de dentro: à mesa e a madeira respira mais rápida e uma grande massa orgânica magnifica cercada de membros como um homem essa pinças na cabeça entre as meninges extraindo uma estrela, os canais luminosos da cabeça iluminam-te todo, iluminas-te quando se arranca a língua e há um soluço da fala, levantas-te soberbamente ao rosto, como a vara do vedor fica acesa pelas ramas de água, como que salga o aparelho do corpo e o torna substancia alta giratória ou se fulgura a trama cristalográfica terrifica da musica se levanta entre os dedos e cordas fundido de sangue e ar no escuro:
música
o medo do poder, esta ferida
tão de um nó de músculos estrangulando
uma leveza
o barro violento, a manobra
das vozes. Fechas os olhos e as
coisas não te vêem,
as mãos brilham-te abertas.


Herberto Helder

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