17.1.05

torga

"Com um ósculo vo-lo entrego.
Chama-se Miguel Torga. Somos irmãos e temos a mesma riqueza.
Mas há dias reparámos nesta coisa simples: para que aos vossos olhos um de nós surgisse Cristo, necessariamente o outro tinha de fazer de Judas. E eu sacrifiquei-me (...).
Apesar disso, despeço-me da cena e dou a minha palavra de honra que não reapareço..."

15.1.05

olhos

ajudo-te com essas pedaços de vida
ajudo-te porque te sei apaixonada
deixo-te voar por entre os braços
nadas no teus olhos triste
cobertos de mágoa

um cego em paris


Era uma vez um cego sentado na calçada em Paris, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira que, escrito com giz branco dizia: «Por favor, ajude-me, sou cego».

Um publicitário, da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu que o boné tinha umas poucas de moedas. Sem pedir licença, pegou no cartaz, virou-o, pegou no giz e escreveu outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi-se embora. Pela tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas.

O cego reconheceu as pisadas e perguntou-lhe se havia sido ele quem reescreveu o seu cartaz, querendo saber o que havia escrito ali.

O publicitário respondeu: «Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras.»
Sorriu e continuou seu caminho.

O cego nunca soube, mas o seu novo cartaz dizia: «Hoje é Primavera em Paris, e eu não posso vê-la.»
Mudar a estratégia, quando nada nos acontece, pode trazer novas perspectivas.