3.12.11

lugar das acácias

Mais uma vez percorro Maputo com o olhar de despedida. Inunda-me este sentimento nostálgico que não devia partir, acho que o meu lugar é aqui. É aqui que devo ficar. É por aqui, vagueando pelas ruas, que encontro gente invisível nos portões das casas despidas de luxos. Gente que, não sei o que sonha, não sei para onde vai, nem o que quer ser. Provavelmente não os entendo com estes olhos desfocados, ocidentalizados, na perspectiva de que qualquer um deve ter um fim para lá da sua existência terrena. Aqui não. Viver basta. 


são estas acácias que trazem a cor dos dias 
que passam agitados com o vento que a tarde 
insiste em prolongar 


as almas boas que se escondem da noite que, 
curta nos sonhos, desconforta o corpo dorido 
de todos os dias vividos nos anos que de tão longos 
não se alcançam com o olhar terno e doce 


de quem acaricia a vida que serve de almofada 
não serão serão os pesadelos que o vão acordar, não, 
vai ser a flor rubra da acácia a fazer lembrar 
que outro dia vai começar

futuro abandono

não queiras interromper o correr destas nuvens
não perturbes o vento que envolve os teus cabelos
com os lamentos da vida

deixa que o sonho aproxime a mansidão das manhãs
que acordam os sorrisos puros e eternos
da gente que não vive neste mundo
onde tudo parece distante e obsoleto
onde nem os deuses te farão companhia
nesse abandono

9.9.11

vou ficar por aqui

Sei que vou ficar por aqui 
este amor é meu e sempre 
vou saber o dia em que acabar
o Sol deixará de iluminar
este vício que é só meu
o vício de ti não vai passar
não sei porque não se desfaz
em nuvens de sal sobre o mar
sei que vou ficar por aqui
com este amor que é só meu.

8.9.11

Parsifal - um poema

A música que ainda se ouve vem de tão longe
atravessa a cidade numa delicadeza fazendo
vibrar a noite no silêncio

Talvez te apeteça escutar
 mas quem quer entender estes acordes mágicos
 tendo a certeza que alguém nos conduz sem as palavras
que temos para trocar

Talvez te apeteça sentar e fumar
conversar sobre aquilo a que o destino nos condenou
 ou simplesmente seguir o ondular do fumo que preenche
 a noite

Talvez nem me queiras ouvir
a noite ficará preenchida com música
que invade a casa tomada pelos fantasmas passados
cheia de vozes tristes e distantes

Talvez, talvez, talvez, … fica incerto este lugar,
desfocado da realidade pela água que insiste em não cair
do olhar que se afasta sem pensar que a noite é sempre despedida.

3.9.11

"No passado cometi o maior pecado que um homem pode cometer: não fui feliz." Jorge Luís Borges

21.8.11

sina

triste é a sina
que não nos sai das mãos
tal tinta encantada
que nos desenha a vida
em círculos cada vez maiores
mas sempre mais pequenos que o mundo

quero é voar
quero é disfarçar
a vida pequena neste mundo
mas sempre aquela tinta que pinta
que nos marca e nos prende ao chão

a paz

se o mar fosse como os teus cabelos
seria o maior dos navegadores
deixaria correr os meus dedos

se os teus olhos fossem as estrelas
percorria todos os mares
num desejo de eternos amores

se o teu abraço fosse o cais
atracaria para sempre
na paz do teu regaço

não apagues o calor

não apagues o amor
não desistas do calor

não há justificação na cruz
um olhar que seduz
vale mais que a solidão
de uma vida sem paixão

não acredites no passado
não o desejes dourado

não existe nada no escuro
apenas a luz é o futuro

22.6.11

noite é hoje

noite é hoje
quando dia não nasce
cresce uma tristeza
que não ilumina a criação

nesta nuvem que foje
deixa a nú o céu
num olhar com firmeza
não reconhece a maldição

e agora que estamos sós
resta vestir o véu
partir com a certeza
que na noite não brilha o Sol

19.6.11

O Sol não nasce

O Sol não nasce igual para todos
Alguns são transparentes
e o Sol atravessa-os como
se tivessem sido condenados
a existência artificial

Talvez na noite sintam
o mesmo frio do inverno
Talvez até sorriam!
Mas como havemos de saber?
Se os encondemos na luz
da nossa maior hipocrisia

Aqui somos todos escravos:
uns por que assim nasceram
outros porque assim vão morrer.

31.5.11

Fim 1

Sou eu!
Que te desejo
Como se não houvesse tempo
Nada que possa pousar
Nua no teu sonho de desejo

Sem a luz que te ilumina
Espero-te feliz
No outro lado do espelho

16.5.11

Dia e Noite

Esperei todo o dia
que a noite viesse vestida
das cores do desejo

Senti ao andar no arame
que o desejo dominava
este calor de Primavera

Morri na espera doce
de quem perdeu a esperança
num pequeno beijo
que de tão pouco se desespera