3.12.11

lugar das acácias

Mais uma vez percorro Maputo com o olhar de despedida. Inunda-me este sentimento nostálgico que não devia partir, acho que o meu lugar é aqui. É aqui que devo ficar. É por aqui, vagueando pelas ruas, que encontro gente invisível nos portões das casas despidas de luxos. Gente que, não sei o que sonha, não sei para onde vai, nem o que quer ser. Provavelmente não os entendo com estes olhos desfocados, ocidentalizados, na perspectiva de que qualquer um deve ter um fim para lá da sua existência terrena. Aqui não. Viver basta. 


são estas acácias que trazem a cor dos dias 
que passam agitados com o vento que a tarde 
insiste em prolongar 


as almas boas que se escondem da noite que, 
curta nos sonhos, desconforta o corpo dorido 
de todos os dias vividos nos anos que de tão longos 
não se alcançam com o olhar terno e doce 


de quem acaricia a vida que serve de almofada 
não serão serão os pesadelos que o vão acordar, não, 
vai ser a flor rubra da acácia a fazer lembrar 
que outro dia vai começar

futuro abandono

não queiras interromper o correr destas nuvens
não perturbes o vento que envolve os teus cabelos
com os lamentos da vida

deixa que o sonho aproxime a mansidão das manhãs
que acordam os sorrisos puros e eternos
da gente que não vive neste mundo
onde tudo parece distante e obsoleto
onde nem os deuses te farão companhia
nesse abandono