24.4.05
moçambique
desejo-te como se fosses uma mulher
levas-me no vento da tarde
deixas-me no sol que nasce no mar
olha-me nos olhos, diz que não gostas
que te olhe assim apaixonado
que queres as acácias só para ti
que a tua beleza é só para os viajantes
desejo-te nos olhos de todos que passam
nos beijos daqueles que abusam de ti
não sei me queres tomar no teu mar
não sei se me deixas deitar nas tuas praias
mas... deixa-me ficar!
que vida
que quasi me distrai da vida
que sonho é este
que me prende à vida
que desejo é este
que me deixa apaixonado pela vida
que carinho é este
que se quer perto da vida
apaixonado?
vai dar uma volta pela vida!
22.4.05
é Abril, embora não pareça!
Sei de um lagarto amarelo que lentamente sobe uma parede. Aos olhos de todos parece imóvel, mas para mim move-se. Lentamente é certo, mas move-se. Agora está sobre um quadro imitando uma parece de tijolo de tons de avermelhados. Aproximei-me um pouco mais do quadro.
sei de um tempo onde as flores azuis
se confundem com o mar
sei do desespero de quem não morre por querer
simplesmente, desejo que as flores dancem em volta de ti
Porque me falas assim? É Abril, não reparas nos meses do ano? O lagarto amarelo continuou a subir o quadro. Para onde vais?
sai daí. sai de ti.
sobe os estores do quotidiano e olha.
espanta-te.
os dias enlouquecem iguais.
sucedem-se, encadeados.
na Praça de Nemésis pintam-se palavras.
colunas de palavras. muitas palavras.
é Abril, embora não pareça.
pássaros de seda cantam as recordações
de silêncios consentidos, forçados e amordaçados.
barcos de papel deslizam em nesgas de luz.
folhas vermelhas cobrem a copa frondosa da multidão
e há cegueira bastante para não ver as flores.
Abril? Um mês igual a todos os outros. O lagarto amarelo nada disse, continuou a subir vagarosamente o quadro. Porque sobes o quadro?
tive um mar, só meu
construí uma ilha, só minha
deixei-me abraçar pelo vento
sentado na areia, via o Sol partir
sentado na praia, via a Lua chegar
fui, então, navegante
fui um descobridor
o mar era, então, um murmúrio
a ilha era, toda ela um encanto
agora, procuro o meu mar
mas tudo é tão estupidamente real.
Deixei-o. Não se incomodam os sonhos de ninguém, por mais irreais que possam parecer. Até sempre, lagarto amarelo. Até um dia.
hoje parti
não quis que me visses assim
é que nada tenho para te dizer
agora, corro pelas águas de abril
peço-te que não me procures
são sombras que passam por mim
e já não és tu que me prende à vida
12.4.05
olhos de longe
a diferença mora longe
na descoberta de um sentimento
nos olhos tristes
os olhares marcados
pelo mar, pelo desejo
de uma nova vida
que passa sempre ao lado
de quem tem, apenas, o olhar
para amar
Uma visão de Maputo...
Por uma vida que lhes foi madrasta...
Sorrisos que escondem lágrimas;
Olhos tristes,
Profundos e imensos.
Escuros pelo sofrimento,
Claros pela esperança.
Corpo no hoje
Alma no ontem
Sem nada para o amanhã...
Vidas no limite
Entre o belo e a amargura
Entre a saudade e a esperança.
Entre a harmonia e a agitação,
De cores, pessoas, vegetação...
Gostos incomparáveis,
Sabores que nos fazem planar...
Elevando-nos às nuvens,
Permitindo-nos tocar no céu
E bailar com os anjos
Ao som de uma melodia,
Que não invade apenas os ouvidos,
Mas apodera-se de todo o teu ser...
Paisagens...
Ai paisagens...
Cenários que só se sonham,
Imagens que não nos atrevemos a imaginar
Sentimentos que emergem,
Vontades que se soltam,
Vidas que se transformam,
Rostos que se iluminam,
Corpos que planam,
Sem nem querer saber o seu destino...
Pessoas amáveis,
Que na sua vida tão simples,
Acolhem quem lhes sorri...
Abraçam quem lhes dá um olhar
Apaixonam quem as ouve.
Pessoas que não te vêm
Olham-te, sentem-te
Recebem-te como ninguém.
De onde vens?
Para onde vais?
Não importa...
Estás aqui e
Aqui ficarás,
Ainda que não presente...
Perfeição...
Imperfeição...
Harmonia...
Turbulência...
Alegria...
Tristeza...
Um misto,
O limite entre tudo, entre nada
Algo que prende,
Algo que envolve,
Onde nos perdemos,
Onde deixamos de nós
Onde finalmente...
Temos a nossa saudade...
carla carvalho